quinta-feira, 25 de junho de 2015

Quinta Tarantinesca #18 - Bastardos Inglórios pt.02

  Bom dia, boa tarde, boa noite amigos taverneiros, primeiramente, me desculpem pelo transtorno semana passada. Muita coisa aconteceu, realmente estourou a hora de postar e eu não tinha nada pronto, nem tempo para deixar o conteúdo tinindo, do jeito que vocês gostam. Mas sejam otimistas, vocês tiveram uma semana a mais para apreciar essa maravilhosa obra digna de aplausos com o queixo! (que piadinha terrível, meu deus do céu)
  Caso não tenha visto o post anterior, clique AQUI.

  Pra relembrar vocês, vamos a uma "breve" (quer enganar quem, Lucas?) recapitulação, juntamente com as diferenças do roteiro para com o filme:
  O filme é divido em capítulos e conta simultaneamente as histórias dos Bastardos e de Shoshanna.
  O primeiro capítulo, “Once upon a time… in nazi occupied France” (Era uma vez… numa França ocupada por nazistas) se mantém o mesmo.
  Shoshanna e sua família viviam refugiadas na França, numa fazenda, até que foram descobertos pelo "Caçador de Judeus", Hans Landa, e exterminados. Somente Shoshanna conseguiu fugir, por um ato de piedade (será?) de Landa.
  Essas cenas iniciais são absurdamente intensas. O diálogo traçado entre Landa e LaPadite (o dono da fazenda) é fantástico. Só o jeito do Landa falar já é aterrorizante. Ele demonstra uma calma e controle sobre a situação, além de ter uma língua ferina e, aos poucos, vai mostrando que de bobo não tem nada, pelo contrário, é extremamente perspicaz, e merece o apelido dado pelos seus inimigos.

(Infelizmente não achei com legendas, me perdoem por isso)

  Já no segundo capítulo, “Inglorious Basterds” (“Bastardos Inglórios, dã), é propriamente a apresentação dos 9 soldados matadores de nazistas e de seus “divertidos” métodos de trabalho
  É aqui que começamos a perceber as primeiras diferenças do roteiro e do filme: existem cenas no roteiro que não entraram no filme e outras que entraram no filme de uma maneira diferente e é aqui que vem a primeira: intercalado com essa cena dos Bastardos interrogando, matando e torturando um grupo de oficiais da S.S., há a cena em que Shoshanna chega em no cinema de Emanuelle Mimieux em Paris que ela vai tomar 3 anos depois. Acontece que essa chegada dela se passa 10 dias depois do massacre de sua família. Após a sessão que ela foi “assistir”, a dona do cinema, Emanuelle Mimieux, pergunta o que ela está fazendo na sala ainda depois que os créditos já acabaram. Shoshanna conta sobre o ocorrido de 10 dias atrás e Emanuelle fica sentida com a história e resolve ensinar Shoshanna a operar o cinema e a deixa morar lá, mesmo que contra a sua vontade já que esconder inimigos do Estado era um crime de guerra. Ainda nesse plano, temos uma sequência de Shoshanna fumando no terraço do cinema. Emanuelle e Marcel, funcionário do cinema, tiram o cigarro de sua boca e o apagam, e aí acabam dando um esporro nela por estar fumando num lugar que guarda uma coleção de 350 filmes de nitrato de 35mm, material altamente inflamável. Isso abre a cabeça de Shoshanna para elaborar o seu grande plano de vingança. Tal como temos cenas do roteiro que não entraram no filme, também temos cenas do filme que não estão no roteiro: o recrutamento de Hugo Stiglitz é uma delas (a melhor também).


  No terceiro capítulo, “German night in Paris” (Noite alemã em Paris), já estamos dentro do filme de novo: 3 anos depois do episódio do terraço do cinema, Emanuelle Mimieux já morta (por doença) e Shoshanna com a sua identidade.
  Estamos na cena que o soldado/astro de cinema Frederick Zöller aborda a judia no seu cinema e acaba por se apaixonar à primeira vista. E ela, claro, cagando pra ele. Frederick decide usar a sua influência de herói de guerra para transferir a grande premiére de seu filme “O Orgulho da Nação” para o cinema de Shoshanna. Sendo assim ele marca um encontro com seu chefe, Joseph Goebbles e um dos grandes líderes da Gestapo: Major Hellström. Quando estão todos juntos, ele resolve meter a Shoshanna no meio da mesa para negociar a transferência da premiére. A conversa segue normal, ATÉ QUE o Cel. Hans Landa adentra o recinto e se junta à mesa. Em um dado ponto dessa conversa, Shoshanna e o Cel. Landa são deixados à sós, e aí temos mais um grande papo de terror psicológico do coronel da S.S. com a judia fugitiva. A diferença aqui não é grande: no roteiro ela acaba se mijando de medo depois que o Cel. Landa sai da sala, e no filme ela só explode a cara de tanto chorar. Vale destacar também a figura do narrador: muito presente no roteiro, mas no filme em si ele teve mais de 75% de suas falas cortadas.


  Agora no quarto capítulo, “Operation Kino” (Operação Kino), é que começam a rolar as diferenças mais descrepantes.
  A única cena do filme que se passa na Inglaterra, com Hicox, um oficial inglês e a figura história de Winston Churchill teve seu conteúdo reduzido em 30%. Uma lástima. É nesse capítulo também que vemos cenas do envolvimento amoroso de Shoshanna e Marcel pela primeira vez, só que tem pelo menos 3 cenas deles juntos no roteiro enquanto que no filme só há uma. No filme nós vemos os dois se pegando lá pro final apenas e o relacionamento dos dois só brota no very end. Antes de entrarmos na La Lousianne (a taverna onde os Bastardos iniciaram a planejamento da Operação Kino), também tem cenas de Marcel e Shoshanna fazendo o filme da vingança: temos eles filmando, sincronizando o filme e levando num laboratório pra revelar a película (contra a vontade do fotógrafo, ou seja, na base da porrada).
  Agora, em La Lousianne, abrimos com a cena mais tensa que já vi em toda a minha vida, começando com a conversa entre os Bastardos que até aparece no filme, mas com parte do seu conteúdo cortado também. Agora no rabbit hole (expressão militar para operações de infiltração em espaços pequenos e fechados) temos os Bastardos seguindo missão com seu contato infiltrado que só aparece agora: Bridget Von Hammersmark, uma grande atriz alemã que se aliou aos ingleses. Tudo parece correr bem até um grupo de oficiais nazistas bêbados começar a criar confusão e o Major Hellström entrar em cena. A putaria começa quando um dos Bastardos encaixa uma Luger nas bolas do Major e cria uma espécie de duelo mexicano já que o Major também tem uma arma apontada pro saco do outro Bastardo que por sua vez também tem uma arma mirando no pênis do Hellström. Todo mundo acaba morrendo nesse tiroteio e só quem sobra é a atriz alemã e um dos oficiais bêbados. Até então, a cena corre conforme escrita no roteiro, com leves diferenças na negociação entre o pai de Maximillian e o Tenente Aldo Raine. A grande treta aqui é o caso Cinderella: um sapato que Bridget deixa para trás e é encontrado mais tarde pelo Cel. Hans Landa.


  Finalmente, “The Revenge of the Giant Face” (A Vingança da Cara Gigante). É aqui que o circo pega fogo. Ou melhor, o cinema.
Antes de comentar sobre esse capítulo, reparem na cara da Shoshanna na tela em chamas…
Pouco familiar, não? Quentin se inspirou no filme “O Mágico de Oz” para fazer a vingança da cara gigante em “Bastardos Inglórios”.
  Talvez seja aqui temos as melhores diferenças entre o filme e o roteiro. É aqui que as histórias se cruzam: o plano de Shoshanna e a Operação Kino estão para se fundir. O cinema está lotado de nazistas, incluindo os oficiais de alto escalão como Goebbles, Herrmann, Bormann e até mesmo o próprio tio Adolfo. Se tudo der certo, a guerra acaba essa noite. De um lado, temos três Bastardos com bombas no tornozelo, prontos pra explodir o cinema. Do outro, uma pilha de 350 filmes de nitrato de 35mm atrás da tela de projeção com um fumante do lado, pronto pra incendiar o cinema. Os 3 Bastardos se infiltram como amigos italianos de Bridget. É aqui que temos, possivelmente, a cena mais engraçada do filme: 


  No roteiro, é Shoshanna que vem checar os tickets de entrada 0023 e 0024 dos Bastardos, e não o Hans Landa. Essa seria a primeira e única vez que Shoshanna e os Bastardos se encontrariam cara-a-cara, mas isso infelizmente não entrou dessa maneira no filme. A cena da luta no banheiro também não foi escrita da maneira como foi filmada. “Dominique DeCocco” entra no banheiro servindo champanhe com um soco de calibre 9mm na cara de oficiais da S.S. quando na verdade era o Utivich que tinha ido dar um cagão (um belo pretexto para armar a bomba atrás da privada) e acabou sendo reconhecido pelos oficiais. No roteiro, a bomba que foi colocada por Hans Landa (!!!!) no camarote onde estava Hitler e seus amiguinhos importantes explode antes de Shoshanna dar o sinal para Marcel queimar os filmes de nitrato. Logo após a frase de Zöller no filme “Who wants to send a messagem do Germany?” (Quem quer mandar uma mensagem para a Alemanha?) é que começa o curta de Shoshanna narrando a sua vingança. No filme, só rola a bomba quando a sala já está em chamas faz tempo. Shoshanna e Zöller já estão mortos na sala de projeção após um atirar no outro. Agora vem a melhor adaptação do filme em relação roteiro: Hitler não morre com a explosão, são Utivich e Hirschberg que vão esvaziar dois pentes de MP5 nele até que tio Adolfo vire queijo suíço. Austríaco no caso.


  O gran finale do filme se manteve o mesmo: Hans Landa capturou Aldo Raine e Donny Donowitz e os levou para a conclusão de seu real plano: se tornar um herói de guerra americano por ter “ganho” os créditos da morte de Hitler, Goebbles, Herrmann e Bormann e outros grandes nomes do alto escalão do Partido Nazista. Ele acaba negociando com os comandantes dos Bastardos, via rádio, nos Estados Unidos e acaba por negociar a sua “rendição”. Os Bastardos concordam e seguem conforme o plano.
  Quando eles estão pra cruzar a fronteira com o terreno inglês, Landa troca de lugar com Aldo no caminhão e é algemado. Aí é que os Bastardos provam que eles, de fato, não negociam com nazistas.
Ao final do filme fica uma única certeza: Tarantino é dono de um estilo único. Poucos diretores conseguem ser identicados tão facilmente por seu estilo. Menos ainda em atividade. Então só por isso já dá pra dizer que ele é muito bom mesmo (Acho que eu já disse isso algumas vezes aqui. Não?). E seu novo filme não vai passar despercebido por ninguém. Gostem ou não do filme. E acredito que existirá quem não goste.
  Aqui vale lembrar que essa não é a verdadeira Segunda Guerra Mundial, essa é a Segunda Guerra Mundial do Tarantino. Não espere uma aula de história, Tarantino não está interessado em o quê realmente aconteceu ou como aconteceu, ele está interessado em contar uma história. E acredite, o final do filme choca e consegue ser mais feliz do que na verdade aconteceu. Não me surpreenderia se eles conseguissem resgatar Anne frank. Por isso Raine fazendo caretas o filme inteiro é totalmente aceitável. É um filme deslocado da realidade.


  Por esses apstectos o filme de Tarantino é um espetáculo. Não fosse ele tão apaixonado pelo seu roteiro, poderia ter entregue um dos melhores filmes sobre a guerra, ao invés disso entrega um filme incrível com momentos de brilhantismo. Um pouco mais curto e com mais espaço para a matança dos Bastardos, (afinal, o filme deveria ser sobre eles, não?), seria um filme memorável, mas ainda assim não será facilmente esquecido. Principalmente, o personagem Hans Landa não será esquecido. O filme pode não ser o melhor, mas não consigo recordar um nazista mais memorável que esse.
  E assim fica mais uma semana pessoal, semana que vem, se o líder supremo do universo, Jean, nos permitir, podemos fazer mais um post só sobre as curiosidades dessa história servida a leite!
Tenham uma ótima semana e até mais. :D

Um comentário:

  1. Uau, esse foi o melhor post de todos. Posso perceber que o filme foi muito bem estudado e analisado. Adorei as comparações entre o roteiro original e o filme, eu não sabia que tinham diferenças tão perceptíveis.
    O filme é brilhante, o Tarantino consegue criar duas histórias paralelas e unir em um mesmo ponto, sem se perder em momento algum. E Lucas, muito bem analisado, eu já assisti Mágico de Oz, mas não tinha percebido a referência. Genial!

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