Bom dia, boa tarde, boa noite, meus queridos Taverneiros. Hoje é aquele dia especialíssimo da semana em que eu posto sobre pés, queixos, e sanguinho. Sim, hoje é dia de Quinta Tarantinesca!
Hoje falaremos de não um
filme dirigido pelo nosso queixudinho preferido, mas sim um de seus primeiros
roteiros (1996) que o levaram ao sucesso. Também fazendo parte do projeto
Grindhouse, hoje falaremos de From Dusk Till Dawn (Um Drink no Inferno )
dirigido por ninguém menos que Robert Rodriguez.
[AVISO DE SPOILER: Escrever sobre
um drink no inferno sem revelar partes importantes da trama é uma tarefa
impossível, então, novamente, essa semana teremos os dois posts lotadassos de
spoilers. Então se você não assistiu ainda, corre lá meninada!]
Um Drink no Inferno é uma obra
peculiar. Na verdade, é até possível dizer que são dois filmes diferentes
costurados em um só. Também é perfeitamente possível adorar uma parte, e
detestar a outra (como é o caso do que vos fala), amar tudo, ou também detestar
tudo. Mas a princípio, o mesmo poderia
ser dito de bras incontestáveis, como o clássico Psicose, de Hitchcock;. A
comparação é óbvia e ela nunca saiu da minha pauta mental desde a primeira vez
que eu assisti o protegidinho de Tarantino.
Psicose é um filme que em seus
primeiros 40 minutos iniciais, trata exclusivamente do furto de dinheiro pela
secretária Marion Crane, e a sua viagem do Arizona para a Califórnia para
encontrar-se com Sam Loomis. Acontece que no meio do caminho, ela para em um
motel e todos nós sabemos o que acontece, não é mesmo?
Um Drink No
Inferno, guardadas as devidas proporções (não, eu não comparei Rodriguez com
Hitchcock, né gente, porfa), o filme funciona senão da mesma, de uma maneira
muito parecida. Em exatos uma hora de projeção, o que vemos é a fuga dos irmãos
Seth e Richie pelo Texas, com tiroteios, incêndios, sequestros, estupros e os
diálogos entre irmãos que eu nunca vou conseguir esquecer. É literalmente um
Road Movie protagonizado por Ladrões e Assassinos.
Tarantino vive Richie, apesar de
Seth ser um ladrão e assassino, perto de Richie ele é o “mocinho”, já que seu
irmão mais novo é um pervertido paranoico (Fetiche por pés retorna aqui) que
tem prazer em estuprar, mutilar e matar. O nervosismo que Richie gera nas cenas
é incrivelmente bem construído no roteiro, especialmente sua interações
libidinosas (e bota libidinosas nisso!)
com Kate. E, quando já estamos meio acostumados com as loucuras que nós
fomos obrigados a testemunhar, Tarantino desce mais um degrau (eu diria que
desce mais alguns andares, até o centro do planeta) e nos apresenta o surreal,
mágico e abençoado bar, o Titty Twister.
Se alguém tem dúvidas que estamos
vendo um “legítimo Tarantino”, a cena inicial, antes dos créditos, logo dissipa
a questão.
(Particularmente,
essa é a minha cena preferida do filme.)
Nessa
conversa, podemos ver que Tarantino e Rodriguez conseguiram criar um universo
completamente novo, dando-nos uma dimensão de que o filme que vemos se passa
dentro de um mundo maior, e não confinado à situação que está ali, passando na
televisão. É sem dúvida, o momento mais Tarantinesco do filme, ainda que várias
conversas posteriores mantenham a essência e a loucura da mente de Tarantino. (quanto
Tarantino num parágrafo só)
A
direção que (Betinho Rodrigo) Robert Rodriguez faz é uma das melhores de
sua carreira. Segura, sem muitas invencionices ou próteses de metralhadoras,
com uma direção de arte que emula eficientemente o espírito do tipo de filme
que ele homenageia. O Maior destaque vai para sua montagem, que não nos deixa
perder o ritmo e nos ajuda a aceitar a transição de um gênero para outro.
A
escalação é tão boa que dá arrepios. Clooney, (o Ocean) em seu primeiro
papel de destaque em um longa-metragem, funciona bem como o homem atormentado
pelo fato que precisa proteger seu irmão a todo custo. Ainda que isso só tenha
retornos negativos. Harvey Keitel, com a serenidade de Mr. Wolf e Mr. White,
nos convence que foi um pastor, que com a morte de sua esposa, perdeu a fé.
Lewis, apesar de nunca ter sido uma atriz de peso, transita muito bem entre os
dois universos, o de garota aparentemente pudica, quanto o de mulher que sente
forte atração pelo perigo (e que perigo!). E Tarantino, claro, como mencionado,
faz o seu maluco habitual, que nesse caso, chega a dar nojinho.
Quem
viu o filme sabe que tá faltando alguma coisa nessa análise. Isso mesmo, ainda
não comentei da segunda hora do filme. Por isso mesmo, você que ainda não viu e se atreveu a ler spoilers,
vá agora assistir esse filmão (disponível na Netflix). E na semana que vem, pode voltar
com o cérebro num prato que falaremos da
segunda parte tão aclamada e odiada desse filme!
- Lucas
- Lucas