quinta-feira, 11 de junho de 2015

Quinta Tarantinesca #17 - Bastardos Inglórios pt.01

  Bom dia, boa tarde e boa noite, taverneiros. Como vocês estão? Depois de um tempo banido, finalmente estou de volta! Hoje entramos nessa reta final, começando nosso papo sobre o time de ouro judeu, sobre o maior e melhor caçador de todos, sim, esse mesmo, hoje falaremos sobre Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds).
   Caso não tenha visto as duas partes do post sobre Kill Bill, pode clicar AQUI. E apenas lembrando que, como sempre, assista o filme antes, pois embora seja um post de recomendação, contém bastante spoiler. Então, teje avisado!


  Sabem, sou um historiador de meia-tigela. Eu deveria é engolir todos esses filmes que tratam de História. Não é o que eu faço, maior prova disso é o meu fanatismo sobre Brave Heart. Bastardos é um dos filmes top 5 da minha vida, por isso esse post  é tão especial pra mim.


  O filme já começa de maneira MUITO promissora. A introdução de um dos personagens-chave do filme, o Cel. Landa (Christoph “MEU REI” Waltz), da SS, é magistral. A sequência inicial do filme é de tirar o fôlego e já vai mostrar um dos principais trunfos do filme: a atuação (E QUE ATUAÇÃO!). Simplesmente sensacional, é aquele caso onde os atores, mesmo sem falar nada, conseguem demonstrar o que está se passando na cabeça deles. E isso pode trazer enorme desconforto ao espectador (o que é ótimo), pois Bastardos Inglórios é um filme intenso e tenso.


  Não poderia se esperar menos de um filme sobre nazismo, um dos períodos mais conturbados, violentos, sádicos e obscuros da humanidade. O filme se passa na primeira metade da década de 40, ou seja: durante a Segunda Guerra Mundial, na França ocupada pelos nazistas. Uma coisa interessante de se reparar é o destaque maior para Joseph Goebbels (Sylvester Groth) do que para o Führer (Martin Wuttke). O Ministro da Propaganda do Terceiro Reich é uma figura central no filme, o que demonstra abertamente a essência do nazismo: a propaganda, que é veiculada também na forma de filmes, todos feitos para exaltar o soldado, a identidade e o nacionalismo alemão (qualquer semelhança com os filmes patriotas americanos é pura coincidência).


  Bastardos é basicamente sobre um filme, feito com esse intuito. Baseado nas façanhas do soldado Fredrick Zoller (Daniel Brühl), todo o drama do filme acaba girando em torno da noite de estréia da película na França, contando com a presença dos mais altos comandantes do Terceiro Reich. E é aí que entra a missão mais importante dos deles.
  Os Bastardos são um grupo de operações formado nos Estados Unidos com um único intuito: matar nazistas. Tudo comandado pelo Tenente Aldo Reine (Brad “FUCKING” Pitt), que aqui vira uma caricatura dos americanos, o que faz a matança dos nazistas se tornar, de alguma forma, divertida. Tarantino fez algo mágico logo de início, quando os nazistas estão sendo espancados, alvejados, escalpelados ou outra coisa violenta, isso é feito de forma divertida. É bastante caricato e com trilhas sonoras não de tensão, mas de pura diversão. Quando é o contrário, quando algum nazista está sendo violento com outro personagem "inocente", o clima de tensão e terror já é muito maior. Isso é mestre e mostra a genialidade de Tarantino ao fazer uma propaganda de patriotismo americano em um filme que fala sobre a história de um filme patriota nazista. (Sua cabeça acabou de ser explodida)


   Isso nos leva a um excelente ponto do filme, assim como os outros de Tarantino, a trilha sonora. Uma seleção de músicas de extremo bom gosto, com direito a Ennio Morricone, é daqueles filmes onde a trilha realmente afeta o espectador, deixando-o atônito, exasperado, temeroso e etc. Isso ajuda muito no clima de “e agora, o que acontece?” que o filme sugere, pois a tensão estará sempre com o espectador.


  Acredito que muita dessa tensão também se deva à mania de dividir o filme em capítulos. Essa semelhança com um livro traz essa sensação, pois eu, pelo menos, sou movido a essa curiosidade de terminar logo um capítulo para saber como vai ser o próximo. E isso é trazido para Bastardos Inglórios, de forma que cada capítulo possui uma importância específica, deixando os vários focos narrativos cada vez mais interligados, de forma a que as ações se cruzam e se completam ao final.
  Tecnicamente o filme é absurdamente sensacional. Jogo de câmera, figurino, efeitos. Há tudo para encher os olhos, pois a reconstrução da época ficou realmente excelente. Achei incrível como mesmo estando na França, Tarantino não mostrou nem sequer uma mísera imagem da Torre Eiffel. Mas mesmo assim, é possível se sentir dentro da França e também perceber a assustadora e monstruosa presença dos alemães, que claramente são demonstrados como intrusos.


  Sinceramente, não tenho do que reclamar. Inclusive porque a História em si não foi respeitada nas vias de fato, e o diretor deixa isso muito claro. O final é surpreendente justamente por causa disso, pois a ousadia do filme vai além do comum, que seria respeitar os caminhos ocorridos na realidade. Representando como seria o final da guerra se dependesse de um fanático nacionalista, assim como o filme representando em Bastardos Inglórios acabava como o personagem principal saindo como um herói nacional, impressionando quem estava assistindo.
  Por outro lado, o universo nazista na França ocupada e seus valores estão muito bem representados no filme, e isso é o que de melhor se pode tirar da ficção baseada no real: a reconstrução e representação de valores. Posto isso, todo o resto ser ficcional é o ponto crucial para sermos surpreendidos.
  Bastardos Inglórios é essencialmente tenso e tem uma mensagem a passar. De vingança, de redenção, de civilidade. Mas não é por isso que o filme é excessivamente sério. Pelo contrário, o clima descontraído e de humor está presente em muitas cenas, principalmente nas que Brad Pitt aparece, com um sotaque do sul dos EUA pra lá de engraçado. E eu ainda quero entender por que o título em inglês é escrito errado..


  Semana que vem já sabe! A segunda parte LOTAAAADA de spoilers e tudo que eu o meu coraçãozinho over excited pode oferecer pra vocês! Tenham um resto de semana incrível, e até quinta que vem!

   Créditos ao Neto e pro Jean delícia pela ajuda com a produção do artigo.
   - Lucas

3 comentários:

  1. Eu adoro como o Hitler do filme é cômico, kk. O filme é incrível, o Tarantino conseguiu fazer um filme nazista extremamente divertido, fugindo dos padrões tristes, criando uma versão alternativa de forma magistral, assim como o Kubrick fez em Dr. Strangelove. E falando em Kubrick, os Bastardos Inglórios são praticamente os druguis do Clockwork Orange, só que em outra época.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim. Com tanta genialidade num filme só, não é atoa que o Tarantino se projetou na última fala do filme: "This might be my masterpiece". :D

      Excluir
  2. Eu me empolguei um pouco e esqueci de elogiar, kkk. Ótimo post, estarei esperando a segunda parte dessa "obra de arte".

    ResponderExcluir